quinta-feira, 23 de abril de 2009

A ascensão de uma estrela?

Susan Boyle. Certamente no dia de hoje muitos de vocês, senão todos, já devem ter ouvido e visto a escocesa Susan Boyle, que deixou os jurados do programa "Britain's Got Talent" de queixo caído. A história é simples. O programa é uma imensa competição para saber que será o novo ídolo britânico (da mesma forma como funciona nos EUA, Brasil e em vários outros países). Algumas pessoas são muito ruins e acabam servindo para a diversão sádica da platéia em ver a uma pessoa pode se submeter para conseguir a fama.
Piers, um dos jurados, deixa sempre bem claro que o vencedor da competição terá de se apresentar frente à Rainha da Inglaterra, autoridade máxima do Reino Unido, o que, obviamente, sempre deixa os candidatos bastante apreensivos. Mas não Susan.
Solteira, desempregada, "nunca-beijada", entre outros adjetivos, Susan Boyle invade o palco, com sua calma sertaneja, esperando ser tão reconhecida quanto Elaine Paige, a grande Dama dos musicais ingleses.
O cinismo reina na platéia, afinal, Susan não só é considerada esnobe, como também não é um modelo de beleza. Pois é. "Nunca julgue um livro pela sua capa", diz o ditado. E é exatamente o que acontece. A partir do momento em que Susan começa a cantar a belíssima canção "I Dreamed a Dream", do musical "Les Miserables", baseado na obra-prima de Victor Hugo, centenas de queixos (inclusive os dos juízes) caem, estatelados ao chão. Susan é um primor.
Dona de uma voz marcante e forte, Susan canta a música completa, algo que não é tão comum nesse tipo de competição, deixando a todos (e a si própria) extasiados. Recebe os três "Sim" para ir para a próxima fase e mergulha, sem respirar, no estrelato.
O vídeo com a canção de Susan Boyle foi visto por mais de um milhão de pessoas, em pouco mais de uma semana. Para termos uma idéia, o discurso do presidente Barack Obama foi assistido por dezoito mil pessoas.
Susan de fato tem uma boa voz, é afinada, sua força dramática é bastante perceptível. É claro é necessário trabalhar sua técnica vocal, sua respiração, para que ela possa ficar cada vez melhor.

Apesar de tudo isso, duas coisas estão me incomodando nessa história toda. Primeiro, a rapidez com que Susan foi lançada ao estrelato mundial. Isso é perigoso para qualquer pessoa, pois ela pode achar que agora pode tudo. Ela está no topo, na "crista da onda". E não é verdade. A mídia é muito traiçoeira e decidirá por quanto tempo ela merece ficar nesse topo.
Ano passado, o mundo acompanhou uma história parecida com a de Susan de um ex-vendedor de celulares chamado Paul Potts, que foi alçado à fama rápida, por também participar do mesmo programa e cantar a ária "Nessum Dorma", da ópera "Turandot", de Puccini, imortalizada na voz do eterno Luciano Pavarotti. - Hoje já ninguém mais fala dele, apesar de saber que ele está fazendo shows e preparando novo cd.

Outra coisa que também me incomoda é dizerem que Susan Boyle é melhor que Elaine Paige. Isso é exagero e errado. Elaine Paige é uma das maiores atrizes inglesas, hoje com sessenta e um anos, tendo participado de diversos musicais, entre eles: "Piaf", "Les Miserables", "Evita", "Sunset Boulevard", "Chess", "Billy" e muitos outros. Ela tem quarenta anos de carreira, milhares de fãs, milhares de personagens. Para mim, é o mesmo que aparecer um cara que se diz espelhar em Renato Russo e todos começarem a dizer que ele é melhor que Russo. Acho uma falta de respeito e ignorância da trajetória da Diva. Susan Boyle é uma boa cantora? É. Tem tudo pra dar certo? Tem. Mas calma. Ela não precisa que destruamos a imagem de sua ídola. A própria Boyle ficaria chateada se soubesse disso, imagino eu.

Elaine Paige, do alto de sua grandeza (eu digo grandeza espiritual, porque ela podia muito bem retrucar ironicamente), ofereceu a chance para Boyle gravar um dueto com ela. Agora é esperar para ver. Espero que a fama não tenha subido à cabeça de Susan e que ela continue como é: humilde.

Nenhum comentário:

Postar um comentário